quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Contos do vigário

O JOGO DA TRANCINHA – Foi tramóia muito popular no final do Império. Era o seguinte:
Saltava um matuto na estação de ferro D. Pedro II. Um marau (podia ser o Barbado Alemão ou o Lino Capenga) abordava-o, puxava assunto, perguntava como foi de viagem. Aí mostrava-lhe um envelope com uma trancinha de cabelos dentro – presente da Antonica, sua última conquista.
O matuto perguntava:
– Cabelo mesmo ou barbas de bode? Deixe-me ver isso. Já dizia o Cristo: “de ordinário o corte não é do mesmo pano que a amostra”.
E pedia para pegar na trancinha. Dizia que na fungada ia saber se era de donzela mesmo. E falava que não dava sossego. O marau ficava a par das últimas do compadre Bonifácio e de toda a gente de Itabirosca e arredores.
Curiosa inversão: a vítima passava a algoz aporrinhativo.
O remédio era tentar de novo. Nem todos prestam para o conto do vigário.


Um matuto (outro) saltava na estação D. Pedro II, chegava um marau e mostrava a trancinha da Antonica.
– Lá em Itabirosca não há disso!
Aí entrava um segundo marau na história – o Esmeralda ou o Padeirinho – que dizia ao primeiro:
– Amigo velho (tapinha nas costas e coisas) como vai o namoro?
– Às mil e quinhentas maravilhas. Hoje ganhei uma trancinha de presente.
– És um prosa!
– Como? Queres apostar?
– Valendo trintão.
– Me pegou desprevenido, mas o amigo aqui (o matuto) tem e não vai deixar esta passar.
O matuto apostava e entrava bem, pois a trancinha havia sido escamoteada do envelope. Terminava o conto na polícia com o delegado aconselhando o matuto a chorar na cama que era lugar quente.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

O Capitão Bexiga

Antônio Joaquim da Silva (vulgo Bexiga) nunca almejou um lugar no exército, muito menos achava que um dia chegaria a militar condecorado. Tudo mudou em agosto de 1890, quando Bexiga abafou uma farda de capitão esquecida por aí.
Agora o Bexiga passeava engalanado com divisas no punho, todo chibante, com um garbo que era mesmo imponente. Apresentava-se como Tito Lívio da Silva, capitão reformado: “E não me bulam na patente!”
– Quem não te conheça que te compre, diziam os conhecidos velhos de guerra
Mas a coisa não durou muito. A polícia veio e: foste pilhado, meu Juca. Deu-se o fisgamento e o Capitão Bexiga perdeu suas divisas.
Um filósofo, nas páginas de um importante jornal, protestou contra a prisão. Dizia ele: “Capitão não é privilégio nem exclusividade do exército, pertence até aos bolos de feijoada”.
Deveras, com veras e tataraveras. Pois nesta mesma noite o teatro Eldorado de variedades não apresentava o Capitão Constentenus o homem tatuado e o célebre general Boum medindo 30 centímetros com 55 anos de idade ainda que chova canivete aberto?



quarta-feira, 8 de maio de 2013

A correspondência de D. Herculana

Prezado (a) assinante do Projeto Contagem Regressiva,
Sentimos informar que após novas e terríveis descobertas, a contagem anterior foi radicalmente alterada. Nosso pessoal tem trabalhado dia e noite para que todos os assinantes recebam nossas atualizações com a antecedência prevista em nosso contrato de adesão, mas em situações extremas os atrasos são inevitáveis. Gostaríamos de lembrar que os cálculos de nossos Supercomputadores incluem o tempo de entrega dos correios e de leitura da carta. Novamente pedimos desculpas por qualquer inconveniente.
A nova contagem para o Fim do Mundo é de: 10 minutos.

Atenciosamente,
Projeto Contagem Regressiva


– Viu só Escandanhas, seu coisa. Eu disse que era dinheiro bem gasto. Se dependesse de você eu ia morrer sem nem saber o que aconteceu.
– Cala a boca, imbecil.
– Seu idiota!
– Boçal!
– Cretino!
– Débil mental!
– Zebróide!
– Palerma de uma figa!
O mundo acaba.

Uma noite no Lírico

D. HERCULANA – Você prometeu que ia me levar ao teatro hoje, mas você não me engana seu velho unha-de-fome. Isso não é teatro, é uma igreja!
ESCANDANHAS – Vê se cala a boca que essa é a parte mais importante. O noivo vai dizer se aceita a noiva não apenas na saúde como também na doença.
(Silêncio cheio de expectativa).
D. HERCULANA – O que ele disse?
ESCANDANHAS – “Aceito”.
D. HERCULANA – Isso deve ser combinado.
ESCANDANHAS – É claro que é combinado, é uma peça!
D. HERCULANA – Numa igreja?!
ESCANDANHAS – Você não entende nada de teatro. Olha, agora é a vez da noiva.
D. HERCULANA – Ela também aceitou. Eu gosto de peça assim (assoa-se) com final feliz. Promete que me traz de novo?

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Lista completa dos brasileiros vencedores do prêmio Águia de Ouro

A Águia de Ouro, ou Águia de Haia como é popularmente designada, é uma honraria concedida anualmente pelos terceiranistas da Faculdade de Direito de Haia.

1907 – Ruy Barbosa
1919 – Arthur Friedenreich


A vitória de Ruy Barbosa foi celebrada como um triunfo nacional. A medalhinha, juntamente com um certificado de mérito, ficou exposta durante meses na vitrine de uma joalheria da rua do Ouvidor causando assombro.
Arthur Friedenreich foi o primeiro futebolista a vencer o prêmio.
Botaram no chinelo o resto do mundo.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Costumes rumenos

Uma peculiaridade da língua falada na Rumênia, o rumeno, é a inexistência de qualquer palavra que expresse negação ou recusa. O que torna a Rumênia tão agradável aos turistas, aos espiões e aos representantes de firmas comerciais estrangeiras causa nos rumenos um sem número de traumas e complexos. Sempre pronto a fazer o que os outros pedem, a consentir, a ceder sempre, o povo da Rumênia é, ao contrário do que aparenta, um triste.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Está na praça

CARIMBOS
poesias da repartição
Livro do admirável terceiro escrevente da décima sexta seção da quinta diretoria Siqueirinha, que tem merecido justos louvores.
“Funcionário com vinte anos de casa nunca foi visto danificando ou subtraindo material da repartição” – Argonauta Pinto, diretor geral.

“É muito considerado por todos aqui da décima sexta seção e até mesmo por alguns elementos da décima quinta” – o Chagas.

“O sr. Siqueirinha distingue-se por seu valor intelectual. Parece mesmo que prestou provas para um cargo obtendo a classificação de ‘muito bom’” – o Penteado.